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Irismar Fernandes de Andrade
VIAGEM A SIENA
“Fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.” (Thomas Gray).
Nesta viagem à Itália tive como objetivo conhecer a cidade de Siena, terra natal da beata Savina Petrilli, a fundadora da Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena, como também a sua trajetória, os lugares em que ela viveu, pois estava sonhando com meu primeiro livro cujo título é: “Caminhos da Caridade.” O livro apresenta a história da trajetória de trabalho da Congregação das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena, mais especificamente, a história do Asilo de Mendicidade Carneiro da Cunha, hoje Lar da Providência Carneiro da Cunha. Seria difícil fazê-lo se não tivesse participado, durante quase 23 anos, de sua história.
Certo dia, chega ao Lar da Providência, por motivos internos da Instituição, a Provincial do Norte, Ir Maria do Amparo Mesquita Machado, a quem expus meu desejo de conhecer, de perto, a cidade onde viveu e tudo o que se referia à vida da fundadora da Instituição, na qual trabalho e dedico uma boa parte da minha vida, a beata Ir Savina Petrilli.E ainda dizem que não existem coincidências nem causalidade.
A Irmã Amparo não veio só revolver problemas burocráticos da Instituição, mas me proporcionar uma das melhores viagens da minha vida, demonstrando consideração. Colocou a minha disposição, desde alojamento em hotel quatro estrelas, alimentação, carro, motorista e muita fraternidade. Durante todos os dias que passei em Roma, Siena, Assis, tudo foi proporcionado pela Congregação dos Pobres de Santa Catarina de Sena, na pessoa da simples e gentil Madre Superiora Geral da Congregação dos Pobres de Santa Catarina de Sena, Maria do Socorro Medeiros Barros Fortes. Logo no saguão do aeroporto de Roma, pude identificar, ao longe, dentre tantas religiosas que ali se encontravam e transitavam, a nossa anfitriã, a Ir Francisca das Chagas de Sousa, uma jovem religiosa formada em Pedagogia, que se encontra estudando em uma Universidade de Roma para melhor servir à Comunidade das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Sena. É uma alegria em pessoa, deixando todos bastante contentes, relaxados e acolhidos.
Roma estava belíssima. Era início do verão. A meus olhos, ela estava lindíssima, não se sei se porque a última vez que tinha passado por Roma era setembro, estação de outono, com clima mais frio, as folhas das árvores caindo, as pessoas com agasalhos pesados, escuros, com chuvas intermitentes. Não sei. Só sei que, em meu novo olhar, Roma, a cidade eterna, se apresentava alegre, vibrante e, posso dizer, aconchegante. No carro que nos conduzia pelas ruas de Roma, chegamos à Casa Geral da Instituição (Casa Generalizia), que fica no Largo Don Luigi Guanella, 3, um local privilegiado de Roma, num bairro bem pertinho do Estado do Vaticano. Nesse bairro fica boa parte de sua hotelaria. Enfim, ele é bem assistido pelos transportes da cidade, uma região privilegiada em tudo.Ao chegar à Casa Geral, fiquei deslumbrada com a sua beleza e localização. Ela situa-se no meio de uma grande área, verde, entre jardins, pomares e horta. Essa casa foi fundada em 1887.
No dia seguinte, às 7 horas, eu já estava pronta para viajar à cidade de Siena, contando com a companhia de Ir. Francisca das Chagas, Irmã Luiza e a motorista Ir. Dorita que nos conduziu durante todo o trajeto entre a Casa Geral e o terminal rodoviário. Foi uma espécie de guia de turismo, mostrando a cidade e reportando sua situação sócio-econômica e religiosa.
Fiquei bastante satisfeita por saber que seria acompanhada pela Ir. Francisca das Chagas, durante a viagem à cidade de Siena. Ficamos alguns minutos no terminal rodoviários e, quase que imediatamente, embarcamos num ônibus bastante confortável rumo a Siena.
O dia estava ensolarado, com temperaturas bastante altas. As paisagens que passavam pela vidraça do ônibus iam modificando-se à medida em que nos afastávamos de Roma, da região do Lazio e entrávamos na região da Toscana.
Ao entrar na região da Toscana, fui logo tocada pelas belezas exuberantes da linda região que, segundo as demarcações geográficas, começa no Mar Tirreno, quase sem planícies, com muitas colinas, formando grandes vales, que sobem até a Cordilheira dos Apeninos.
À medida em que as horas se passavam, a viagem se tornava mais interessante, por ver o aproveitamento agrícola da terra e observar que as cidades, os burgos foram construídos no topo das colinas. A beleza era tanta, que a viagem que dura de 3 a 4 horas, passou tão rápida, que, quando dei por mim, já estava às portas da cidade de Siena.
Siena é uma pequena cidade da região central da Itália, a Toscana. Foi fundada pelos romanos que, no local de um povoado de origem etrusca, para uns historiadores, para outros gálica (os Senoni), edificaram, na época de Otaviano Augusto, uma colônia militar (Saena Julia).A Comuna medieval adotou um símbolo (a loba que aleita os gêmeos), desde sua antiga origem, e, em conjunto com a “Balzana” (escudo preto e branco) é o emblema heráldico da cidade.
Siena é também dos Medici que mantiveram vivas as recordações da sua antiga liberdade e o espírito faccioso dos seus habitantes. Não podendo influir no regime político, alimentou-se da paixão pelas disputas entre os bairros ( Contradas). No campo artístico, distinguem-se: Domenico Beccafumi, Sodoma, Perruzzi...
A sua marcada individualidade espiritual é sublimada contemporaneamente pelo apego às antigas tradições nas “contradas”e nos “Pólios”( corridas de cavalos), as manifestações mais características dos habitantes de Siena.
Hoje, Siena é uma cidade turística e de peregrinação. Ela pode ser dividida em duas partes: uma com a sua história e suas arquiteturas medievais com um conjunto harmonioso de diversos palácios, igrejas, praças, fontes e a Catedral e, a outra parte, que é contemporânea fora do eixo central .Hoje, na parte da Siena Antiga, só os moradores da região podem trafegar de carro por suas ruas.
Eram 12 horas do dia, num clima agradável, embora Siena seja bastante fria, pois foi edificada no cume de uma colina.Quando cheguei à entrada da cidade medieval, lembro-me de que olhei o relógio e, ao mesmo tempo, vi o símbolo da cidade, a loba que aleita os gêmeos, na sua entrada. Fiquei bastante emocionada ao andar pelas ruas até a Via Baroncelli, onde se encontra a Casa Madre (Casa Mãe).
A Casa Madre, exteriormente apresenta-se com as mesmas características das outras casas, com características medievais. Depois fui ao hotel.
Fiquei hospedada no melhor hotel da cidade o Hotel quatro estrelas Degli Ulivi, na Via Lombardi 41, por conta da Congregação. Cheguei lá pelas 13 horas e voltei à Casa Madre, às 16 horas, onde conheci a diretora da casa, a Superiora Maria Pia, uma pessoa acessível, alegre, que foi comigo fazer um passeio turístico pela cidade. Em primeiro lugar, levou-me à casa de Santa Catarina de Siena, em Fontebranda. Fontebranda também é o nome da mais célebre fonte de Siena, mas é mais conhecida por ser a região onde nasceu Santa Catarina de Siena, Doutora da Igreja Católica, Padroeira da Itália e co-padroeira da Continente Europeu.
O local fica no bairro ou Contrada do Ganso, de onde logo se vê o conjunto do Postiço das Comunas de Itália, a entrada da casa de Santa Catarina. Para lá do pórtico,eleva-se, em cima de finas colunas, um pequeno átrio em claustro, que é atribuído a Peruzzi.
Depois levaram-nos ao Oratório da Cozinha que, segundo a história,tem esse nome porque, em parte, foi aproveitado da provável cozinha da Família Benincasa. Esse foi o primeiro local dos confrades “caterinati” (reuniões), com uma rica decoração pictórica, a exemplo da espetacular quadro pintado por Pietro Sorri: “Milagre de Ossessa.”
A Ir. Maria Pia, como um bom guia de turismo e conhecedora dos cominhos religiosos da cidade, levou o grupo: Dr.ª Osmarina, as Irmãs Francisca e Inêlda e eu à Basílica de São Domingos onde se encontra a Capela de Santa Catarina de Siena, construída em 1460, graça a Niccolò Bensi. Ela conserva, no altar, a cabeça da célebre Santa, transportada de Roma para Siena, em 1384. O magnífico altar, em mármore, foi esculpido, em 1469, por Giovanni di Stefano. A Relíquia encontra-se dentro de uma cavidade central, protegida por uma grade, no exterior. À direita e à esquerda do altar vêem-se dois anjos esculpidos, sustentando dois candelabros. Acima da janela, encontra-se uma imagem da Santa Catarina, a meio busto, rodeada de querubins.
A Capela é linda, contendo, nas suas paredes, afrescos e óleos. O grande pintor Sodoma, em 1526, começou pintando, dos lados do altar, o Desmaio (êxtase) e o Êxtase de Santa Catarina de Siena (ou visão Eucarística) da Santa, duas obras- primas desse admirável artista, cujos quadros são de uma delicadeza e expressividade monumental. Também se veem obras de Francesco di Giorgio, como a Adoração dos Pastores. Ele foi um grande arquiteto, escultor e pintor de Siena. A Capela é um centro de peregrinação de todo o mundo católico, um lugar onde a religiosidade se expressa através de suas obras de artes.
Finalmente, chegamos a um conjunto arquitetônico extraordinário, a Praça da Duomo, se encontra um dos mais famosos exemplos de catedral românico-gótica italiana, em mármore. Atual Catedral, como a primeira, foi construída no século XI e é dedicada a Nossa Senhora da Assunção.
Confesso que, com a ajuda de Deus, eu já viajei por mais de 57 países, conheci inúmeras igrejas, capelas, catedrais, palácios, construções de todas as épocas e posso dizer que a Catedral de Siena é surpreendente, pelas cores: ela é toda em preto e branco (torna-se o símbolo da Balzana), tanto exteriormente como interiormente e pelo tesouro em obras como: o pavimento interno da catedral, uma obra única na História da Arte. O Pavimento é formado por desenhos coloridos em mármore e em riscado, dividido em 52 quadros. As cenas da nave central, desde a entrada da Sé, representam o Eremita Trismegisto de Giovanni di Setfano.Vi também a Capela do Voto, onde se encontra Nossa Senhora com o Menino Jesus, muito venerada pela população de Siena, como Nossa Senhora do Voto, com desenho de Lorenzo Bernini, o célebre Púlpito de Nicola e Giovanni Pisano. Há, também, as quatro estátuas de Miguel Ângelo, no Altar Picollomini e a escultura de S. João, em bronze, de Donatello e muitas outras peças de valor inestimável para a humanidade.É um imenso museu, dentro de uma Catedral que, por si só, é uma obra de arte. Mesmo escrevendo-se páginas e páginas, não se descreveria toda a sua grandeza e beleza.
No lado esquerdo da Praça do Duomo pode-se ver o Palácio Arcebispal e, na frente da Catedral, o Hospital de S. Maria Della Scala, o mais antigo da Europa, que remonta do século IX. Antes de entrar na Praça do Duomo, surpreendeu-me uma imponente construção, o Palácio dos Governadores dos Medici.
É impossível se descrever todas as belezas dos palácios, das fontes, das praças, portas, igrejas, basílicas e da catedral. É um conjunto de obras de arte incrustado em uma pequena cidade na região da Toscana, no centro, no coração da Itália, como já foi descrito anteriormente
Foram muitas horas caminhando pelas ruas estreitas, pelas praças, igrejas, capelas, palácios e catedral, conhecendo essa lindíssima cidade. Conheci, ainda, artistas de grande envergadura como os precursores do Renascimento e também os artistas da alta Renascença. O nome e o trabalho de muitos deles, pelo menos no Brasil, não são muito conhecidos.
A volta ao hotel ocorreu mais ou menos às nove horas da noite, quando o sol ainda estava alto, pois estávamos no verão. Caí na cama de tanto cansaço e logo adormeci. Acordei, disposta e alegre, pois era o dia que eu tanto almejava: conhecer o que eu só sabia e conhecia através de livros, revistas e relatos de religiosas: a trajetória da Beata Savina Petrilli.
A Vigária Agostina Bonamei me recebeu sorridente, receptiva, a princípio falando o italiano compassado para que eu pudesse entender todas as suas explicações, mas, com o decorrer da conversa, lá estava ela falando um perfeito português. Ir. Agostina me levou à Igreja da Visitação, construída pela Madre Savina, que fica a alguns passos da Casa Mãe, na Via de Rossi, erguida com os esforços de Madre Savina fruto de uma promessa feita a nossa Senhora, por ocasião de uma doença incurável que se abateu sobre três religiosas de sua Congregação, quando as mesmas foram desenganadas pelos médicos da época. A Igreja da Visitação começou a ser construída em 7 de junho de 1896 e terminou cinco anos depois. Em 2 de junho de 1901, foi feita a Consagração da Igreja, pelo S.R. Cardeal VicenteVannutelli, com a presença do Bispo Pio Alberto Del Corona e de toda a comunidade local. A Igreja da Visitação é de extrema simplicidade. No interior mostra um estilo do século XV ou XVI, com três naves, com forro de madeira pintado de um azul escuro cobalto, com rosas grandes em relevo, fruto do trabalho das religiosas da Congregação.
Ao entrar na Igreja, a primeira visão é o Altar Sarcófago, construído em mármore e vidro, onde se pode ver, na parte inferior, o corpo da fundadora e beata da Congregação. Olhando-se para cima, encontra-se um quadro representando o encontro de Nossa Senhora grávida, com Santa Isabel, também grávida do Precursor S. João Batista. Ao lado do altar maior, também é possível ver-se quadros representando S. José e Santa Catarina de Siena, todos pintados por Alessandro Franchi, esposo de Luisa Franchi Mussini, que foi uma grande amiga de Madre Savina, de quem escreveu sua primeira biografia “Annali della Congregazone delle Sorelle dei Poveri di Santa Catarina di Siena,” em 1898, que revisada pela própria Madre Savina. Na lateral interna esquerda de quem entra na Igreja, pode-se encontrar um pequeno museu de tudo o que pertencia à Madre Savina e, no lado direito, encontra-se um altar, onde está o quadro de Santa Sabina. Segundo a história, ela viveu no tempo das perseguições dos cristãos em Roma. (BARDI, 1935, p126).
Era quase meio dia, quando fomos almoçar em um pequeno restaurante da cidade. Depois, recomeçou a peregrinação em busca da história da Beata Savina, nas ruas de Siena. Primeiro fomos à casa em que Savina Assunta Maria nasceu, em 29 de agosto de 1851.
Ao chegar lá, encontrou-se uma casa simples, externamente bem conservada e, segundo as informações, até hoje habitável. Na parte da fachada, há uma placa com uma homenagem da cidade a sua ilustre filha. A casa fica na Via Del Costone, em longa e íngreme escadaria, pela qual se desce até a fonte Fontebranda.
A Praça do Campo é um esplendor, rodeada por obras-primas da arquitetura medieval, onde se veem a linda Torre de Mangia, com seus 84 metros de altura, iniciada em1325 e terminada em 1348; o Palácio Público, a Capela da Praça. Já eram mais ou menos 20 horas, quando saímos da Casa Mãe, para conhecer a Praça de São Francisco, onde se encontra a estátua de Savina e uma das Igrejas mais famosas de Siena, a Igreja de São Francisco, onde se encontram Partículas Sagradas, hóstias que se conservam intactas, há diversos anos.
No dia 9-5-2005, após o café, fiquei no hall do hotel Degli Ulive, à espera das Irmãs Francisca e Inêlda, para realizar uma viagem à cidade de Assis, na região da Úmbria, onde fica o Santuário de São Francisco de Assis. Eram mais ou menos 9 horas, quando se tomou a estrada. A motorista era a paraibana e patoense Inêlda Paulo da Silva, uma pessoa atenciosa, inteligente, competente e, no volante de um carro, extremamente hábil e passando segurança às pessoas que estavam sob sua responsabilidade. E lá vamos nós pela estrada da Toscana, com seus belíssimos cenários. Pouco a pouco, entra-se em outra paisagem, uma paisagem mais árida, mais desabitada, de altas montanhas, com a beleza peculiar da região da Úmbria.
Essa era a segunda vez que eu pisava na cidade de Assis. A primeira vez tinha sido antes do terremoto e foi uma visita rápida. Nessa segunda visita, pude, com mais tranqüilidade, rever os afrescos de Giotto. Como andei pelas montanhas a pé, senti o cheiro da terra, ouvi o canto dos pássaros. Agora sei por que São Francisco falava com os animais. Porque naquele lugar, a natureza é tão bela, que alguma coisa faz com que o ser humano se integre a ela e sinta que um Ser Maior integra todas as coisas e esse ser é Deus.À tardinha, iniciou-se a viagem de volta à Siena, chegando ao hotel por volta das 19 horas.
Acordei, no dia seguinte, extremamente cansada, entretanto, muito feliz por ter realizado todo o meu projeto: o de conhecer os lugares, as pessoas e as coisas que povoavam a minha cabeça antes de querer escrever sobre um dos projeto da Congregação das Irmãs dos Pobres no Brasil, o Lar da Providência, em João Pessoa.
Às 9 horas da manhã, o grupo já estava na estrada, outra vez, de volta à Roma, dessa vez de carro, com Ir Inêlda Paulo, com todo o seu conhecimento da região, uma vez que sempre faz esse roteiro Siena-Roma, acompanhando a Madre Superiora Geral, Maria do Socorro Fortes, em suas Visitas Canônicas às casas da Congregação, por todas as Províncias da Instituição, na Itália. A viagem foi rápida, didática e agradável!
A chegada à Roma ocorreu às 14 horas. Descansei e, depois, fui fazer um rápido passeio pela cidade. Vi o monumento a Garibaldi, o herói dos dois mundos; o Castelo de Santo Ângelo; a Praça de São Pedro, depois, voltamos à Casa Geral, sempre mudando de itinerário, para que eu pudesse conhecer bem a cidade.
No dia seguinte, o grupo foi de ônibus, à Praça de São Pedro, assistir, ao meio dia, a hora do Ângelo que, segundo a bíblia, foi à hora em que Maria recebeu o Anjo Gabriel, anunciando que ela ficaria grávida de Jesus. É nessa hora que o papa fala de uma das janelas do Vaticano, para o mundo e para as pessoas que se aglomeram, todos os dias, na Praça de São Pedro, para ouvi-lo.Antes da hora do Ângelo, assistimos a uma Missa, nas imediações da Praça de São Pedro, uma missa linda, com cantos gregorianos
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Após a fala do Papa Bento XVI, fomos andar pela cidade, a pé, para rever o Monumento a Vitório Emanuele II, A Fontana di Trevi, o Colisseo, o Foro Romano, o Pantheon e todas as ruínas que ficam naquelas imediações. Continuamos andando pelas ruas de Roma, conhecendo, mesmo por fora, a casa onde morreu Santa Catarina de Siena e a Igreja onde se encontra a seu corpo. Não entramos nelas porque ambas estavam fechadas.
No dia seguinte, dia 13, passei a manhã descansando das andanças do dia anterior. Fiquei no quarto, lendo a vida da Beata Savina, em um livro traduzido para o inglês, e um outro em italiano.
Durante minhas leituras, surgiram dúvidas quanto ao verdadeiro nome de Beata Savina, pois havia divergências entre os dois livros. Fiquei sabendo que a Madre Superiora Maria do Socorro Fortes tinha voltado de Siena e estava melhor de saúde, Graças a Deus, assim como a Vigária Agostina Bonamei. Ela, ao saber, por Francisca e Inêlda, das minhas dúvidas logo se apressou em marcar um horário para tirá-as.À tarde, no mesmo dia, fomos fazer uma visita ao Estado do Vaticano, em companhia de Ir. Francisca das Chagas. Fomos à Praça de S. Pedro que, naquela hora, estava praticamente vazia. Então, resolvemos conhecer a Cripta dos Papas, o lugar onde estão enterrados quase todos eles.
No dia 14, acordei cedo, tomei café e, às nove horas, a superiora colocou-me à disposição duas boas cicerones.
De ônibus foi-nos possível andar no comércio e rever as lojas no centro comercial da cidade. À volta para o almoço deu-se às 14 horas. Ás 15 horas já estávamos, mais uma vez, fazendo turismo outra vez pela cidade, agora no outro lado, conhecendo a Catedral de São Paulo e o lugar onde o santo foi sacrificado e onde se encontram as fontes de água. Conta-se que, quando São Paulo foi decapitado, sua cabeça rolou e, em cada lugar em que a cabeça tocou, nasceram as fontes.
Às 14,15 horas do dia 15 de junho, embarquei, em um avião da TAP, de volta a Lisboa, pela décima vez, rumo a um patrimônio da humanidade, a histórica e linda cidade do Porto, a cidade-mãe de Portugal, que eu ainda não conhecia.
Acompanhou-me nessa viagem a médica Drª Osmarina Batista de Almeida, que, como eu, foi muito bem recebida pela Comunidade das Irmãs dos Pobres de Santa Catarina de Siena.
Depois de vários meses, comecei a estudar aqueles pintores que tanto me impressionaram, quando de minha estada na cidade em Siena.
Primeiro, é bom saber que Siena foi uma cidade de grande importância cultural, durante todo o Período Renascentista, tanto que se criou uma Escola de Arte que teve muita influência em toda a península italiana e em outros países, a exemplo de Florença, que, como se sabe, foi o berço da Renascença e, no século XIV, era o centro de arte para onde convergiam pintores de todo o mundo.
Entretanto, a cidade de Siena tinha uma escola de artistas que contribuíram muito para a História da Arte Ocidental. Assim, vejamos:
O mais destacado pintor sienês foi Duccio di Buominsenegna (1260-1319). Iniciou como mosaísta, na pintura, procurando fugir da arte bizantina, que era toda exterior e linear. Duccio, que se fez renovar, principalmente na composição, foi o verdadeiro anunciador do “quadro”, no sentido de dotar a técnica com agrupamento de figuras unidas e regidas por uma dominante. Os personagens possuem movimentos lentos, nos gestos, apenas com a intencionalidade, empresando transcendentalidade dos sentimentos humanos nas composições sólidas das suas figurações e a expressão severa de suas personagens.
As suas obras estão em vários museus do mundo. Em sua cidade, podemos destacar: A Pesca Milagrosa (Opéra do Duomo- Siena); Virgem Triunfante (Catedral de Siena); Políptico da Virgem e Santos (Pinacoteca- Siena). As obras como mosaísta: O Coroamento da Virgem, que ilumina o Duomo da Catedral de Siena (COLEÇÃO HISTÓRIA DA ARTE, 1978, 37, 78; RIBEIRO,1962,p 178, 179; GOMBRICH, 1995, p,212, 213; SÉRIE DE LIVROS PARA TURISTA, (1999, p18), Simone Martini (1285-1344), pintor sienês, foi influenciado pela pintura de Duccio di Buominsenegna, que consiste na agregação da arte gótica com novas expressividades, com as influências escandinavas e também dos poemas de Francesco Petrarca que foi seu amigo. Pintou A Majestade (1315-1321), umas das obras-primas da pintura gótica européia que se encontra no Palácio do Município em Siena, mais humana do que A Majestade de Duccio di Buominsenegna, que pode ser vista na Sé Catedral de Siena. (COLEÇÃO HISTÓRIA DA ARTE 1978, p 40, 42, 46; RIBEIRO,1962, p179, 180; GOMBRICH, 1995, p 212 , 213, 214).
Outro pintor nascido em Siena foi Stefano di Giovanni (1392-1450), com um estilo dos mestres do século XIV, entretanto com uma maneira mais ingênua, e lírica. Peruzzi (1484-1537), arquiteto, escultor e pintor sienês foi um dos maiores decoradores na Alta
Renascença. São de sua autoria: Palácio Pollini e Palácio Mecinne, em Siena .( RIBEIRO, 1962 p 306, 307).
Muitos outros artistas, vindos de todas as partes do Continente Europeu, deixaram muitas obras de arte para a humanidade na cidade de Siena, como Perrugino (Pietro Vannuci (1445-1523), da Escola de Perúsia, onde ensinava a representação do ritmo da figura no espaço. Ele foi o pintor do equilibro e do espaço.Assim, havia sempre um equilíbrio e proporcionalidade entre a figura e o espaço. Ele foi de certa maneira, antecessor de Vermeer de Delft, no século XVII. Suas pinturas tinham uma luz refinada, razão pela qual ficou conhecido pela técnica de situar as figuras na atmosfera e de banhá-las com uma luz natural. Obra em Siena: a Crucificação de Cristo na Igreja de Santo Agostino.
Pinturicchio-Bernardo Betti-(1454-1513), nasceu em Perúgia. Foi muito influenciado por Perugino. Uma de suas importantes obras, os afrescos, encontram-se na Biblioteca Piccolomini; A Sabedoria e a Fortuna, na cidade de Siena. (RIBEIRO, 1962, p 266, 267). Sodoma-Antônio Basi-(1477-1549) nasceu em Vercilli, trabalhou em Siena, e foi contemporâneo de Leonardo da Vinci, com quem conviveu. Foi um verdadeiro pintor da Renascença, tendo vivido a maior parte de sua vida em Siena. Sua obra fundamental está na Capela de São Domingos.Entre 1522-1526) a Capela foi toda revestida com afresco e óleo nas paredes. Suas obras: Êxtase de Santa Catarina de Siena , Êxtase da Santa, onde utilizou a técnica de trompe – l`oeil. Outras obras em Siena: a Sagrada Família com S. Leonardo no Palácio Público; Adoração aos Magos na Capela de Santo Agostinho (RIBEIRO, 1962, p254, 255; SÉRIE DE LIVROS PARA TURISTA, p84). Jacopo Della Quércia (1374-1438) nasceu em Siena. Foi um grande escultor que conseguiu, de maneira singular, com ritmo, gesto dos corpos, a expressividade das intenções. Obras em Siena: A Caridade, Estátua de Gian Tedesco, Fonte de Gaia, O Anúncio a Zacarias. (RIBEIRO , 1962 p 306, 307).
Vale lembrar que, na Catedral de Siena, encontra-se quatro esculturas feitas por Miguel Ângelo de Bounarroti, incluídas no grande conjunto de mármore que tem o nome do Altar Piccolomini, assim como as esculturas de Donatello (Donato di Nicolo de Betto Bardi (1386-1466). Florentino foi o escultor do bronze e do mármore que penetrou mais profundamente na análise do personagem, retratando-o com extrema individualidade. Foi o criador, na época, da estátua solta no espaço, livre. Obra: São João Batista em bronze, na Catedral de Siena (RIBEIRO,1962, p286 , 287; GOMBRICH, 1995, p300).
A cidade medieval de Siena é conservada, tornando-se um museu a céu aberto, sendo cada palácio uma obra de arte e, dentro deles, um tesouro de obra de arte.
Olhar exteriormente a Catedral da cidade de Siena, de estilo gótico-românico italiano, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, em preto e branco, é de tirar o fôlego. Seu interior é de uma riqueza incalculável, com inúmeros grandes artistas e suas obras de arte. Vêem-se na cidade nove palácios que pude contar, inúmeras igrejas, edifícios públicos, museus, fontes e hospitais, tudo conservado. Podem ser citados nomes de outros artistas não muito conhecidos, cujas obras se encontram espalhas pelos palácios, igrejas, museus de Siena, como: Taddeo di Bartolo, Domenico di Bartolo, Ambrogio Lorenzeti, Sano di Pietro,Vecchietta, Pietro Lorenzetti, Francesco di Gergio Martini, Beccafumi, Guido di Siena, Giovanni e Nicolas Pisan
A cidade de Siena é, antes de tudo, uma obra de arte.Tive a graça de conhecer suas ruas, a sua gente, seus tesouros em obras de arte e, principalmente, uma das escolas de pintura mais importantes da História da Arte, a Escola a Arte Siensense, que nasceu no fim do século XIII e começo do século XIV e me encantar com todas essas obras magníficas tão pouco conhecidas pelo grande público.